Observe esse texto do geriatra Alexandre Kalache, que é uma referência em longevidade. Ele diz:
“Envelhecer é um susto, não pelas rugas ou pela dor nas articulações. O susto maior é saber que a vida passa e que a maioria de nós será esquecida em duas gerações. Meu pai foi um homem extraordinário. Meus filhos e sobrinhos sabem pouco sobre ele. Isso dói.
Por isso escrevo, não para ser lembrado eternamente, mas para deixar algo mais humano, mais verdadeiro. A escritora Conceição Evaristo fala de escrivivências, escrever a partir da vida vivida e é isso que quero deixar. Já escrevi livros técnicos, agora escrevo com o coração. Porque quem trabalha com velhice não pode ignorar a finitude.
Quero ser lembrado como alguém que usou a voz enquanto a teve, que escolheu ver o que muitos fingem não enxergar, que não esperou, mas esperançou. E se um dia eu partir em silêncio, que minhas palavras fiquem, para lembrar que viver é urgente, e que envelhecer, mesmo com medo, pode ser um ato de coragem”, diz o médico geriatra Alexandre Kalache.