A minha conversa com um grupo de cinco idosas foi rendendo. Elas se encontram mensalmente para colocar as conversas em dia.
Uma delas me disse: “eu amo arrumar minha casa. Outro dia fui deitar e vi uma pia com alguns pratos já secos, que eu lavei após a janta. Abri o armário e fui guardando o que estava ali, liberando a pia, que ficou sem nada fora do lugar. Eu moro sozinha”, me disse aquela senhora.
E continuou. “A gente vai envelhecendo e vai colecionando algumas manias. A minha sempre querer a casa cheirosa e arrumada, mesmo não tendo mais ninguém comigo. Um dia, caminhando, minha ficha caiu. A vida toda eu tive que agradar aos outros. Minha sogra, que não gostava de mim, meus vizinhos, para aceitarem uma jovem vinda do interior”.
Depois de uma pausa reflexiva ela continuou. “Eu arrumo a casa e a deixo cheirosa é para mim, não é para os outros. Faço isso porque me agrada, porque me faz bem. A velhice. Esse é um presente, podem até dizer o contrário, mas é. Parece que é preciso viver uma vida pra descobrir, com tantas escolhas feitas, que é preciso tão pouco pra ser feliz. Sou feliz quando a luz do sol invade a minha janela. O sol fez isso a vida toda, mas precisei da maturidade pra saber o que isso representa em minha vida”, disse aquela doce senhora.