Todas as semanas eu vou a uma instituição onde faço um trabalho voluntário. Acompanhei a gravidez de uma das profissionais que trabalha naquela unidade. Como lá é muito grande, nem sempre conseguimos falar com todo mundo. Fiquei sabendo que ela havia saído de licença maternidade ao ver que outra pessoa estava em seu posto.
Quatro meses depois ela estava de volta e eu assustei como o tempo passou rápido. Era a primeira vez que eu a via depois do parto e a saudei, feliz em revê-la. Perguntei se estava tudo bem com a criança e ela, serenamente, me disse que a menininha estava com papai do céu. Eu murchei na hora. Ela me mostrou uma tatuagem do pezinho da criança em seu braço.
Não adianta ficar se sentindo mal em situações desse tipo, pois ela infelizmente passará por esta pergunta muitas vezes mais. Lembrei de uma entrevista que fiz com a professora Nayara Noronha, autora do livro “A Filha”, que conta a história de uma mãe de uma criança que nasceu morta. A mãe de um natimorto vive num limbo, de ser mãe e não ter mais o filho, ao menos fisicamente.
O luto não reconhecido dói. O abraço que eu não consegui dar naquela mãe eu deixo aqui, para todas as mães e pais que guardam seus filhos na lembrança.