Aquele homem desceu do ônibus interestadual com a ajuda da filha, que o segurava com cuidado enquanto ele avançava pé ante pé.
Com pressa, mas sem poder correr, dirigia-se ao banheiro daquela parada da rodoviária. A filha me viu e com sorriso gentil pediu que eu o ajudasse a entrar, pois ela esperaria do lado de fora.
Ofereci meu braço e ele aceitou com um olhar de gratidão. Enquanto caminhávamos lentamente, ele confidenciou que havia desistido das viagens, pois sentia que dava trabalho demais às pessoas.
Levantou a camisa e mostrou sem muito constrangimento a borda de uma fralda geriátrica, dizendo que era, ao mesmo tempo, um auxílio e um incômodo. Contou que antes viajava com a esposa por diversas cidades e estados, mas após enviuvar, mergulhou em depressão.
Agora, por insistência dos filhos, estava revisitando alguns dos destinos que um dia explorou ao lado dela. Com a voz serena, ele me revelou que, quando sua esposa partiu, ele desejou muito ir junto, mas, com o tempo, compreendeu que cada um tem seu próprio momento e que acima de tudo é grato por ter compartilhado a vida com ela.
Hoje, ele segue adiante, por ela e por ele, me confidenciou.