Em muitas empresas, a sucessão em cargos de gerência é um ponto que gera diversos desafios. Isso é mais forte principalmente em uma companhia familiar, na qual o fundador que também ocupa o lugar de presidente pode encontrar dificuldade quando chega a hora de transferir o cargo para alguém do mesmo sangue. Em seu livro “De Herdeira a Sucessora: Uma Trajetória Entre Pai e Filha”, a psicoterapeuta Blenda Oliveira detalha os principais desafios desse processo.
Tendo a sucessão como tema central, levando em consideração as diferenças entre homens e mulheres, Blenda fala das dificuldades de construir um modelo intergenéricos de hierarquia e poder. A transição de gestão para as novas gerações permanece sendo o principal desafio para empresas desse setor, que representam 65% do PIB. Outro dado preocupante é do índice Global de Empresas Familiares, da PwC, em que apenas 36% das empresas desse tipo vão à 2ª geração.
Em entrevista ao Conecta Mente, na CDL FM, a psicoterapeuta falou a respeito dos desafios encontrados pelos gestores, quando percebem que devem parar, o que significa cortar laços com um projeto de toda uma vida.
“Para esse gestor isso tem um valor muito grande. Porque isso se tornou a identidade dele. Ele não é mais só o ‘Antônio’, ele é ‘Antônio da empresa X’ que ele construiu. Essa pessoa é conhecida pela própria obra. Retirar isso da vida dele é como estar retirar um pedaço do seu corpo”, explica Blenda.
Ainda de acordo com a psicoterapeuta, outra dificuldade é que muitos desses fundadores não se preparam para o momento da passagem do bastão. Além disso, geralmente os empresários ainda não planejaram a quais interesses vão se dedicar daquele dia em diante após de afastar da presidência, o que deixa o próximo passo um pouco assustador.
Quando o empresário deve se preparar para a sucessão?
Há algumas décadas, profissionais com cerca de 65 anos já estavam prontos para se aposentarem. Contudo, com o passar do anos uma pessoa sexagenária está com mais vitalidade e funções cognitivas muitas vezes excelentes.
Dessa maneira, isso se torna mais uma complicação na vida desse empresário que convive com a dúvida de quando é a hora certa de parar. Nesse momento, ele precisa entender que a vida de fato não chegou ao fim e alterar sua trajetória para algo novo. Para a psicoterapeuta, a definição desse momento varia para cada pessoa.
“Eu acho que o momento de parar é uma coisa que antigamente se falava de uma certa idade, mas hoje isso está meio ultrapassado. Então a hora de parar é uma hora muito pessoal. Porém, esse momento deve ser planejado, não dá para parar e achar que no dia seguinte não vai sentir falta da rotina”, diz Blenda.
Para auxiliar nesses momentos de reflexão sobre o afastamento, a autora destaca que a empresa, ou até mesmo o gestor, pode procurar ajuda profissional de consultorias especialistas em sucessão.
“Acho fundamental que se tenha um profissional com muita experiência e que possua uma sensibilidade para esse momento. A gente tem que entender que a empresa familiar tem uma vibração emocional muito forte, pois há laços afetivos dos filhos, do fundador, da fundadora e tantos outros”, explica.
Como desenvolver outras atividades?
Muitos fundadores de empresas não conseguem se ver fazer algo diferente do que fizeram durante toda vida. Nesse contexto, esse pensamento pode dificultar as coisas para quem está deixando um cargo de presidência ocupado durante anos.
Por isso, no decorrer da vida o ideal é abrir um leque e explorar outras atividades, já que viver novas experiências é algo saudável para a própria saúde mental. Isso facilita o processo de afastamento do trabalho por parte de quem está passando o bastão.
“Muitas pessoas [os fundadores] não conseguem imaginar viver uma vida diferente daquela que vivem. Por isso é importante ter outros passatempos. Uma maneira de dar sentido a ‘vida pós-empresa’. Por exemplo, praticar um esporte, aprender um instrumento, trabalhar com serviços voluntárias ou viajar para lugares ainda desconhecidos. Tudo isso pode contribuir com esse momento conturbado de cisão”, reforça Blenda Oliveira.
Para finalizar, ela ressalta ser necessário que os filhos procurem conhecer a empresa da família, mesmo que não tenham intenção de seguir os passos dos progenitores. E que os pais, fundadores do empreendimento, fiquem atentos aos talentos dos filhos, para que assim a preparação para uma possível sucessão ocorra junto ao crescimento desse jovem.
“É importante que desde cedo os filhos conheçam o trabalho da família e saiba o que o pai faz no serviço. Também é importante o pai trocar ideias com esses filhos. Nessa linha, aqueles que pretendem um dia ocupar o lugar do pai devem fazer cursos, ganhar experiencias em outros lugares, com outros chefes, e se capacitarem! Todas essas atitudes são importante para que a empresa não deixe de crescer quando esse bastão for passado de fato”, conclui.