22/05/2024
Redação: Reprodução
Imagem: Divulgação/ Senatran
O trânsito de Minas Gerais teve aumento de 22,6% no número de acidentes entre 2020 e 2023, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito. O crescimento faz com que o total de casos do ano passado, que ficou em 280.848 mil, supere os números de 2019, quando o total de sinistros chegou a 274.100. Neste Maio Amarelo, mês de conscientização para prevenção de acidentes, a marca mostra que, mesmo após a queda de casos com a pandemia de Covid-19, MG voltou a um patamar muito alto.
O número de mortes aumentou 6,8%, de 1.885 para 2.014, no mesmo período. Já a quantidade de feridos teve pico de 482.672 em 2022, mas recuou para 477.697 no ano seguinte. Ainda assim, é maior que o ano pré-pandemia, quando foram 444.349 feridos (alta de 8,6%). Os números apontam para a necessidade de políticas de prevenção, conscientização e de tratamento para quem fica ferido após acidentes.
A analista de treinamento Karina Neves Matos, de 44 anos, é um dos exemplos de vítimas. Ela sobreviveu a uma grave colisão em novembro de 2013, mas precisou se readaptar devido às consequências. Karina estava de férias, e saiu de Belo Horizonte para ir ao encontro da então namorada na cidade de Divinópolis. O trajeto foi feito debaixo de chuva fraca, no início da tarde. “O meu carro começou a derrapar, rodou, bateu no guard rail da estrada e o veículo foi cortado ao meio”, comenta.
Ao procurar o celular para pedir ajuda, Karina viu que seu pé direito havia sido amputado na batida. “Eu me desesperei e queria somente sobreviver. Pedi ajuda para uma ex-namorada, que é médica, e contei com pessoas que pararam na estrada”, diz. Após a chegada de socorristas, Karina foi levada de helicóptero para um hospital.
Impacto e adaptação à nova realidade
A princípio, Karina passou por cirurgia e se recuperou em alguns dias. Aos poucos, o fato de ter perdido um dos pés ficou mais claro para a paciente. Ela precisou usar uma prótese no lugar do pé amputado. O processo de adaptação ao uso do componente durou cerca de três meses. Karina procurou uma clínica da Ottobock em Belo Horizonte, empresa que produz tecnologias assistivas para pessoas com deficiência, e contou com auxílio de equipes especializadas para recuperar a autonomia.
“O primeiro mês foi mais lento. Quando coloquei a prótese pela primeira vez me imaginei como uma criança: ao mesmo tempo foi um momento de independência e emoção, mas tive medo, porque é um equipamento que não faz parte do nosso corpo. Mas com a ajuda de fisioterapeutas pude me adaptar, adquirindo segurança aos poucos”, conta.
Segundo a coordenadora de fisioterapia na América Latina da Ottobock, Maria Laura Pucciarelli, é importante que uma pessoa que foi vítima desse tipo de acidente procure equipes multiprofissionais e os equipamentos mais adequados para cada caso. “A visão global e o alcance de todas as ferramentas disponíveis para o tratamento de uma pessoa com deficiência é o que garantem a maior autonomia e independência possível”, explica.
A especialista diz ainda que existem algumas etapas pelas quais uma pessoa amputada passa antes de se sentir plenamente autônoma com uma prótese. “O paciente precisa primeiro preparar o membro residual (a parte do corpo que não foi amputada) para receber a prótese. É um período pré-protético, com acompanhamento do fisioterapeuta, enfaixamento, orientações e treino de equilíbrio. Depois a pessoa começa a usar o encaixe provisório, no qual é realizado o monitoramento para conforto do paciente e o treinamento de marcha e atividades de vida diária. Quando o paciente está adaptado e o membro residual estável, é confeccionado o encaixe definitivo”.
Readaptação é possível
Karina reforça que, mesmo com o susto e a dificuldade de recuperação após um acidente, é totalmente possível voltar a ter uma vida normal. Ela comenta que, após novembro de 2013, ficou com trauma de dirigir. “Até mesmo ao entrar em um carro no banco do passageiro me dava pânico”, conta. Depois de alguns casos complicados que envolveram discriminação ao ter que andar de ônibus, ela decidiu enfrentar o medo e voltar a dirigir. “A gente só sabe que é possível ter uma rotina normal quando estamos no nosso limite”.
A analista de treinamento ainda fala da importância das tecnologias para esse processo. “É questão de ter liberdade, de ir e vir com independência. Além disso, precisamos ter mais humanidade com as pessoas e perceber que nesse momento de adaptação e pós acidente, as pessoas estão mais frágeis e precisam de atenção”, finaliza.